Metáforas Analíticas e Epifanias de Fim de Ano
Sobre o que eu estava falando antes de cair nessas ilusórias metáforas horríveis? Ah sim, último dia. É como se fosse a última chance de fechar esse ciclo com as coisas limpas, finalizadas em questão de compreensão, entender todos esses amores que vieram e foram embora, pra sempre ou não, pode ser que voltem hoje, ou ano que vem, ou daqui a 20 anos; entender os amores em vivência no momento, contar os segundos antes que os fogos estourem, beijar os lábios de alguém querido e simbolizar naquele beijo, naquele único gesto de alegria toda a satisfação que eu tenho de ter um peito lotado de amor por pessoas tão distintas, com tantos encantos, com tantos defeitos, com tantas dores, pessoas tão humanas em seus aspectos fantásticos.
Talvez hoje lágrimas escorram pelo meu rosto, não pela festa boba e tradição idiota que não havia sido entendida até que eu entendesse um pouco mais de mim mesma, mas choraria por essa epifania constante que é tão mais intensa hoje. Abrir 2006 com lágrimas, sem promessas, mas com objetivos, com uma vontade terrível por imensa de realizar esses sonhos gritantes que já me renderam tantas noites de sonhos insônios.
Fechar o bloco de notas e deixar disponível um novinho, com caneta nova também, limpar o quarto, mudar os móveis de lugar pra que a poeira se distribua de um modo diferente nesse novo ciclo, registrar outra posição pras coisas na minha memória. E com isso vou formando minhas próprias tradições de fim de ano, um rumo pros meus pensamentos individuais, um balanço intenso e sutil nas bases da rotina, parar pra olhar as placas só por um minuto, e na falta de placas, recordar a última vista, e lembrar sempre que, como Almodóvar me ensinou, os caminhos são entrelaçados e se encontram e desencontram, andam em círculos e nos levam a lugar nenhum e a lugares do acaso que mal percebemos.
Pensando nisso sinto vontade de ler aquelas linhas do Kundera, aquelas análises do cotidiano e a insustentável leveza que passo tempo integral tentando achar, é o que fica implícito mesmo nos dias de dor, e explícito nessa manhã do dia trinta e um dezembro de 2005, regada a inúmeras canecas de café, inúmeros cigarros e o som da bossa contemporânea que toca com elegância. Tenho minha leveza agora e vou desfrutar de um último dia do ano levemente ensolarado, levemente triste e levemente alegre com esse vento que vem da janela pra arrastar a fumaça que sai do cinzeiro e sai da caneca e se mistura com a luz e vira parte do ar de todos os dias, aspirando um prazer levemente hipócrita de ser fiel aos meus vícios e apreciá-los.
Até ano que vem pra quem quer que seja. Até daqui a pouco para aqueles que estão do meu lado nesse caminho, mesmo os que estão separados de mim por tantas estradas de cimento, estarão comigo o tempo todo, escritos na memória com tinta invisível e definitiva, em linhas que nos unem por estradas que não são feitas de cimento, são feitas dessa mistura subconsciente de realidade e sonhos.
3 Comments:
and so be it.
*carves a heart on a tree*
*blows a kiss*
o/
Eu quero estar do seu lado nesse caminho para sempre e que eu tenha pernas pra isso e que eu ainda aprenda muito com você, aliás desejo ser sua eterna aluna pois eu te amo muito e quero ainda muito sorisos e tudo mais que temos direito nessa vida.
depois de 18 dias do começo do que nunca acabou, eu estou aqui.
Ano é uma coisa bizarra. Para comçar, ignoramos 6 horas que a natureza deu ao nosso ano para joga-las, ao fim de 4 anos, num ano bissexto.
Ano novo. Teria algum significado senão aquele que o homem dá para todas as coisas que parecem (ao ser ver) dignas de serem comemoradas?
Na minha virada eu estava com soluço.
'O homem viaja o mundo procurando aquilo que encontra quando volta para casa´
beijos miris
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