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  • 8.12.05

    Limbo


    Eu já estava correndo por aquelas ruas movimentadas fazia uns quinze minutos. As construções eram baixas e a cores de tinta na parede eram de tons berrantes diversos: escarlate, amarelo canário, azul turquesa, magenta e por aí segue. Muita gente transitava por ali: mulheres com crianças no colo, muitas sacolas e uma penca de mais crianças nas costas, homens suados, putas de salto, trabalhadores cansados indo pra casa comer um prato de arroz, feijão e angu frio enquanto a esposa reclama sobre o preço do gás, estudantes com suas namoradas, intelectuais entrando e saindo dos sebos imundos. Sem esquecer de que eu corria desesperadamente. Aquilo me parecia o centro da terra, pra onde as pessoas vão depois de morrer e criar uma ilusão de que aquilo é só uma mudança espiritual, a qual explica inclusive o fato de que ao botar a cabeça no travesseiro nenhum sonho ilustra suas exatas oito horas de sono intensamente leve, do tipo que não se tem certeza se está dormindo ou não. Eu já não sentia meus pés e minha respiração era breve e rápida, o cenário se embaçava quando esbarrei no que eu estava procurando e não sabia.

    Eu não havia morrido como o resto das pessoas ali, eu estava bem viva atrás de alguém que havia largado minha mão em conseqüência de um lapso meu de atenção. De alguma forma eu havia atravessado a barreira dos mortos para salvar minha alma ao salvar a dela.

    Então ali estava eu, caída de um tropeço e com as costas repousadas na base de algo que me lembra fotos de quando eu era criança, a família reunida na praça, tirando fotos sob o sol em frente aos pequenos monumentos públicos da cidade. Aquilo que servia de apóio para as minhas costas poderia ser a base de granito de qualquer estátua da praça central da cidade em que eu havia vivido até então, mas aquilo não era granito, era mármore. Talvez não fosse mármore, mas era profundamente branco e gelado como se fosse. Ainda me recuperando da queda, respirei fundo e olhei pra cima, meus joelhos, que já se flexionavam para levantar cederam mais uma vez quando bati meus olhos na estátua que se erguia em cima da base. A imagem que meus olhos registraram naquele momento superou qualquer emoção que eu julgava conhecer até então, tão intensa que me causou uma tomada de consciência luminosa, seguida por aquela sensação que se diz ter antes do momento de morte, toda a minha vida havia se passado diante dos meus olhos em um segundo.

    Era um anjo, que brilhava um brilho eternamente intenso, mas sem radiação, o brilho que saía da estátua não se espalhava, estava contido em seus detalhes minuciosos que eu tive certeza não ser obra humana. Olhei em volta e tive vontade morrer ao ver que todas aquelas pessoas passavam alheias à tamanha maravilha. Eu havia achado o que procurava, havia passado todo o final da minha anterior existência imaginando-a como um anjo e lá estava ela, no mundo dos mortos, servindo de enfeite invisível para o local. Logo entendi que eu só via a estátua porque era a única viva. Senti-me tola por não ter entendido tudo antes que minha mente pudesse pregar-me mais uma peça. Ela havia tentado tirar sua vida, e ao invés de juntar-se aos outros naquele limbo, havia se tornado o monumento perfeito pros olhos dos vivos num mundo de mortos.

    Um segundo depois eu estava num mundo de ilusão criado pela minha mente aflita em perder o tesouro que procurava há tanto. Uma floresta vasta, numa clareira se encontrava a estátua, que assumia um sorriso triste, assim como o olhar, que aspirava impossibilidade por ser feito de pedra e ainda assim apresentar tamanha profundidade. Eu não existia mais, era o preço a pagar por ter-me enfiado onde não devia, eu fazia parte do vento que batia nas folhas, e depois no rosto frio do anjo de asas fechadas mirando os céus à minha procura. Ela sabia que eu estava ali, sabia que mesmo sem meu corpo, eu estava ali.

    Como se um músculo facial tivesse se movido, vi o anjo sorrindo singelamente pra mim, quando reparei o céu passava de azul para roxo, como se tivessem jogado tinta vermelha que se misturava aos poucos à imensidão que eu agora fazia parte.

    5 Comments:

    Anonymous Anônimo said...

    Uau!
    Se isso tivesse acontecido comigo, eu nunca contaria pra ninguém, muito menos em um blog!
    Plac plac pra Míris!
    E aposto que isso foi verdade!
    E tia mary 100% sangue/coração/ mente!

    moonlight sonata diz:
    mas esse texto só entendido em sua totalidade se você estiver escutando a moonlight sonata do beethoven

    VOU LÁ ESCUTAR!

    =D

    dezembro 09, 2005 11:08 AM  
    Anonymous Anônimo said...

    starla dear, i'm crying.
    the tears won't let me type, i'll tell you all about my impressions once they're gone...
    how is it that you.. that i...
    i'll tell you later, i promise.
    love you so much.

    dezembro 09, 2005 11:15 AM  
    Anonymous Anônimo said...

    santa míris!
    porque só voce pode colocar tudo tão nitidamente de um jeito que ninguem entende ao certo!
    lindo.
    eu me sinto mal em não conseguir achar palavras que descrevam todo esse turbilhão de sentimentos e imagens que me vem agora!
    perfeito, é isso.
    e nada mais nada menos.
    eu te amo, mas só faltam seis.
    e a verdade é que não sinto que isso venha ao caso, vou ler de novo.
    beijos

    dezembro 09, 2005 11:42 AM  
    Blogger void said...

    já preciso ir pra casa, sweetest...
    mas passei aqui pra marcar a presença [?] e te adicionar lá...


    te amo
    te amo mesmo :)

    dezembro 09, 2005 4:18 PM  
    Anonymous Anônimo said...

    cores
    talvez eu seja estupido

    dezembro 12, 2005 12:38 AM  

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